27 julho 2009
Época de transformação
21 julho 2009
Uma espécie de desabafo...
14 julho 2009
A magia do jazz... Gostar e porquê?
Para os que me conhecem, ou vão conhecendo e se têm passeado pelo meu blog sabem que sou amante de jazz. Ora, colocar um post sobre jazz não seria, por certo, novidade. Mas, a verdade é que este não gera o interesse que, na minha opinião, devia no público em geral.
Ao longo dos anos tenho ouvido as mais diversas questões:
“Porque gostas “disso””?
“Não é um estilo de música “velho””?
“Ver um concerto de jazz? Bah… que seca”
Etc…
O jazz não se gosta, sente-se. Não é velho, muitoooooo pelo contrário e já explicarei. Seca é gramar com as novelas da televisão nacional.
Pois bem, o que é o jazz? O link http://pt.wikipedia.org/wiki/Jazz pode-vos dar uma ideia bastante generalista do que este representa, em termos históricos. Mas, o que realmente importa não é o que o jazz, é sim aquilo que faz sentir. E perguntam vocês:
- “O que faz ele sentir?”
Eu respondo:
-“Tudo!” lol
De facto o discurso jazz, ao longo dos tempos, sempre esteve ligado a quase todos os assuntos: amor, tristeza, alegria, euforia, morte, sexo, drama, paixão, loucura, êxtase, etc… O jazz sempre se ocupou em “musicar” esses sentimentos e situações de uma forma bem mais natural, sentimental e lírica que outros estilos. Fá-lo de uma forma tão honesta que nos anos 40/50/60/70 chegava perfeitamente às massas e agora tal não acontece. Porquê? Isso abre pano para mangas e que talvez não seja o melhor dos tópicos. Não porque seja mau, mas sim porque se torna incómodo e discutível em meios menos esclarecidos. No fundo, digamos que o público se desleixou ou se acomodou a um certo facilitismo institucionalizado. Enfim.
Mas o jazz é uma forma de encarar o mundo, escrever e pintar com sons.
- “Porque achas então tem o jazz tem mais magia que o rock? o metal? a dance music? o pop? E por aí…”
Talvez porque o faça de uma forma que nos conecta com o universo e com as raízes, porque existe uma espécie de energia cósmica num solo improvisado, no clímax de uma performance. Há algo de transcendente e ao mesmo tempo completamente terreno e humano. É verdade que falamos de som, organizado de forma a seguir uma determinada estratégia estilística e uma manifestação própria, mas som! Com toda a grandeza ou pequenez que se lhe queira atribuir. Aliás, para quem possa não saber (espero que todos saibam!), som é vibração. Essa vibração gera ondas que se convertem em impulsos interpretados pelo nosso ouvido e analisados pelo nosso cérebro como manifestações sonoras. O interessante é que tudo na natureza está em constante vibração/movimento. Até uma rocha! Aqui entra a dimensão atómica. Os átomos também se encontram em permanente movimento, o que prova que, de facto, tudo é som.
- “O que faz pois haver quem goste de um estilo e não do outro?”
Vários factores: a educação (na minha opinião o predominante); o preconceito; o nível social (curiosamente este só se manifesta nos nossos dias, já que o jazz nasceu no seio dos emigrantes negros americanos, envolvidos na pobreza de quem pelos EUA se refugiou à espera de melhores oportunidades ou, mais cruelmente, como escravos); a falta de personalidade (demasiadas pessoas tendem a assumir comportamentos de massa dentro da unidade grupal em que se encontram); o medo da diferença (semelhante ao preconceito); a pura e simples ignorância; a própria estrutura orgânica do nosso ouvido e das conexões cerebrais; etc…
Antes que me crucifiquem, posso-vos assegurar que a resposta à questão acima apenas com um: “porque eu gosto e pronto” não é de facto resposta. Os nossos gostos são baseados nas experiências de vida, numa relação de feedback positivo ou negativo, associado ou não a outras circunstâncias marcantes, dessas mesmas experiências. Quero com isto dizer que, aquilo que alguém toma como bom hoje, teve um impacto positivo numa qualquer situação semelhante no passado. Não precisa de ser necessariamente igual, mas semelhante. Somos frutos das nossas construções pessoais e nelas baseamos aquilo que é o nosso gosto. Prova disto são os estudos, cada vez em maior número sobre o efeito da música nos bebés e recém-nascidos, cujo efeito da personalidade ainda não é absolutamente manifestado.
Voltando ao tema, o jazz e os blues são os pais de praticamente tudo o que se faz actualmente na música num contexto ocidental. O jazz faz 90 anos mais ou menos. Continua a reinventar-se diariamente, muito mais que rock. Nos dias que correm, devido ao seu espírito de profunda base musical funde-se com o pop, rock, funk, blues, música latina, flamenco, bossa-nova, música celta, sonoridades asiáticas, com a dance music, world music, fado, etc… Trata-se pois de uma manifestação profundamente actual, nascida muito à frente do seu tempo e talvez incompreendida por isso. Os ouvintes e músicos de jazz não são uma “elite” ou “intelectuais”, como muitos lhes teimam em chamar. São, infelizmente por cá, uma minoria.
Se por acaso algum ouvinte de jazz me estiver a ler, certamente, compreenderá tudo aquilo que até ao momento escrevi.
A Improvisação
Finalmente, importa dizer que o jazz introduz algo na música que até então apenas Johann Sebastian Bach (Eisenach, 21 de Março de 1685 — Leipzig, 28 de Julho de 1750), tentou fazer de forma dissimulada. A IMPROVISAÇÃO, essa forma de arte maior que foi “inventada” pelo jazz e pelo génio dos seus “criadores”. A capacidade de se reinventar uma música a cada vez que se toca é algo que só pode atrair. O rock, metal, pop, etc… tentam introduzir alguma dessa linguagem hoje em dia, mas o que é facto é que a mestria continua e sempre continuará a vir do legado dos grandes mestres. Esses homens primeiros que organizaram e compilaram aquilo que, tomamos hoje por adquirido, em termos de teoria e prática musicais. A música clássica sempre viveu á parte do jazz. Sempre olhou para este com respeito, mas, ainda assim, em parte desvalorizando-o como “música não erudita”. O conhecimento técnico dos instrumentos numa fusão próxima com o conhecimento teórico, faz com que aprender a improvisar seja uma aprendizagem a longo prazo, nunca completa na vida de um músico e que, se vai recriando e interagindo com o meio musical envolvente.
Quem nunca ouviu, que se deixe contagiar 10 minutos por dia com a magia do jazz. Ele pode mudar a tua vida!
Deixo-vos uma pequena síntese informativa dos principais nomes e correntes (imensamente mais havia para acrescentar), em ordem pela qual, o jazz, se foi desenvolvendo.
* Ragtime - 1880/1990 (Scott Joplin)
* Blues - 1900/1920 (Ma Rainey, Bessie Smith, W.C. Handy)
* Dixieland - 1917/1920 (Louis Armstrong, Jelly Roll Norton, King Oliver)
* Big Band (Swing):
- Inícios - 1920 (Flectcher Henderson, Paul Whiteman)
- "Boom" - 1930/1940 (Woody Herman, Count Basie, Duke Ellington)
- Pós-Gerra até ao Presente - 1940 (Stan Keaton, Buddy Rich, Maynard Ferguson)
* Latin Jazz - 1930 (Dizzy Gillespie, Stan Keaton, Airto Moreira)
* Bepbop - 1940/1950 (Dizzy Gillespie, Charlie Parker)
* Cool Jazz - 1940/1950 (Miles Davis, Bil Evans, Wes Montgomery)
* Hard bop - 1950 (Art Blakey, Miles Davis, Horace Silver)
* Post bop - 1950/1960 (Miles Davis, Julian "Cannonball" Adderly, John Coltrane)
* Free Jazz/Avant Garde - 1950/1960 - (Ornette Coleman, Cecil Taylor)
* Fusion - 1970 (Chick Corea, Pat Metheny, Weather Report)
* Post Modern Jazz - 1970/1980 (Charlie Haden, Muhal Richard Abrams, Keith Jarrett)
Beijinhos e abraços para todos
João
09 julho 2009
O calor é inimigo dos telemóveis
05 julho 2009
Depois da confusão...
"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma"
Beijinhos e abraços a todos
João
02 julho 2009
Apenas um dia - Conto/Romance Parte 3
Era necessário procurar o responsável pela barbárie.
Dirigi-me à sala, peguei no telefone e contactei o 118. Minutos depois uma ambulância e um carro da polícia encarregavam-se de despertar toda a vizinhança, que depressa acorreu numa incursão de pijama e trajes menores, invadindo o jardim. Irritado com a falta de descrição, que a situação impunha, procurei, educadamente, afasta-los. De nada serviu. Pareciam ter tendência à morbidez.
A polícia judiciária acabaria por chegar, selar o local e afastar-nos do interior da casa.
Fomos conduzidos para prestar declarações. O ambiente no ar era tenso. Sofia de olhar vazio e sem vida observava a rua pelo vidro do carro. Sem saber o que fazer, ao certo, apertei-lhe a mão com força e disse-lhe:
-Estou aqui!
Tentou esboçar um sorriso, mas saiu frágil.
Chegámos à sede da PJ e iniciou-se a tortura com horas seguidas de extenuantes interrogatórios. Sempre em busca da falha e da incongruência íamos sendo bombardeados com questões atrás de questões. O cansaço invadia o corpo e depressa chegou a manhã.
Sem dormir e com alguma fome deixaram-me sair. Sofia ficou. Apanhei um táxi e chegado a casa tomei um banho, ataquei o frigorífico e voltei a chamar um novo táxi para me levar até casa da mãe de Sofia, já que, o meu carro havia ficado lá, na noite anterior.
Ainda me encontrava tão atordoado com toda aquela história, não percebia porque não a deixaram vir também. Nada daquilo fazia sentido. Não havia sido ela, tinha certeza disso, pensei.
Estacionei no parque ao lado do edifício da PJ. Estava um dia solarengo e havia gente pelas ruas, na agitação típica de uma metrópole. Entrei. Sofia estava finalmente fora do gabinete de interrogatório. Vi-a ao fundo do corredor, corri até ela, abracei-a e disse:
- Vamos embora daqui, precisamos de apanhar um pouco de ar.
- Não posso, não posso sair para longe, disse-me a chorar.
- Porque? Perguntei.
- Fui constituída arguida! Eles pensam que matei a minha mãe João! Disse-me desmontando-se nos meus braços.
Um impulso gelado correu-me pela coluna, ainda assim, enchi-me de força, contornei os seus ombros com o braço e disse-lhe que tudo iria correr bem. Pelo menos, assim o esperava.
Saímos. Entrámos no carro e não houve uma palavra durante penosos minutos. Não sabia para onde ir, não sabia que fazer. Tentar animar? Temia que tal não fosse acontecer. Parei na praia, não me parecia o melhor dos sítios neste momento, mas tentei. Tudo parecia ignorar o que se passava connosco. O dia brilhante e convidativo, as crianças aos pulos na areia, já cheirava a Verão e nós apedrejados pela mão negra do destino, ou de outra coisa qualquer. Sofia continuava em voto de silêncio. Compreendia-o.
Sentámo-nos num rochedo junto à água. Dei-lhe a mão.
-Tu não está sozinha nisto, não sei se isso vale de algo, mas… Não estás só!, disse-lhe apertando a mão e procurando os seus olhos escondidos.
- Obrigado! Olhou e beijou-me.
Não sabia ao certo como lidar com a dualidade da situação, dei-lhe um sorriso e disse-lhe tentando cair em graça:
- Estava difícil sair um beijo teu, estava!
Devolveu-me um sorriso e encostou a cabeça no meu ombro.
Deixámo-nos ficar por uns minutos assim, olhando o mar, calados.
- Que vou eu fazer agora? Tenho a minha vida destruída! Acusaram-me de ter morto a minha mãe.
- Calma! Eles não te acusaram de nada! Constituíram-te arguida por teres sido a primeira a chegar ao local e enfim, por todo o cenário. Nada mais que isso! Provar-se-á que não foste tu. Tenho certeza disso. Resta-nos arranjar um advogado, coisa que já devíamos ter feito, ainda antes dos interrogatórios e deixar que as investigações comprovem que estás inocente.
Seríamos chamados para depor novamente nessa tarde.
Segundo o inspector eu fora ilibado já que à hora do crime estava no bar e havia passado o dia no trabalho, coisa que fora comprovada pelos testemunhos da Margarida, do Pedro e dos restantes amigos do bar, que concordaram prestar declarações.
Já Sofia corria mais riscos, não tinha álibi.
Depois do jantar passámos pela casa de Sofia para trazer alguma roupa e artigos de higiene pessoal, já que, havíamos combinado que ela ficaria na minha casa, pelo menos, por uns dias.
Sofia entrou no edifício e eu fiquei para trás, detido pelo aparecimento da D. Ermelinda, que num ápice, me lançou um completo interrogatório sobre tudo o que se estava a passar, pois a notícia não demorara a chegar. Tentei abreviar o assunto. Por fim subi. Ao entrar, dou com Sofia estática à entrada da sala, apoiada na parte lateral da porta. Boquiaberto, vejo inscrito na parede, a pinceladas irregulares de tinta vermelha meio escorrida:
- Agora só faltas tu!
Apressados, arrumámos os haveres dela e saímos directos para a polícia relatar o que vimos.