14 julho 2009

A magia do jazz... Gostar e porquê?





Para os que me conhecem, ou vão conhecendo e se têm passeado pelo meu blog sabem que sou amante de jazz. Ora, colocar um post sobre jazz não seria, por certo, novidade. Mas, a verdade é que este não gera o interesse que, na minha opinião, devia no público em geral.
Ao longo dos anos tenho ouvido as mais diversas questões:



“Porque gostas “disso””?
“Não é um estilo de música “velho””?
“Ver um concerto de jazz? Bah… que seca”

Etc…



O jazz não se gosta, sente-se. Não é velho, muitoooooo pelo contrário e já explicarei. Seca é gramar com as novelas da televisão nacional.

Pois bem, o que é o jazz? O link http://pt.wikipedia.org/wiki/Jazz pode-vos dar uma ideia bastante generalista do que este representa, em termos históricos. Mas, o que realmente importa não é o que o jazz, é sim aquilo que faz sentir. E perguntam vocês:



- “O que faz ele sentir?”



Eu respondo:
-“Tudo!” lol



De facto o discurso jazz, ao longo dos tempos, sempre esteve ligado a quase todos os assuntos: amor, tristeza, alegria, euforia, morte, sexo, drama, paixão, loucura, êxtase, etc… O jazz sempre se ocupou em “musicar” esses sentimentos e situações de uma forma bem mais natural, sentimental e lírica que outros estilos. Fá-lo de uma forma tão honesta que nos anos 40/50/60/70 chegava perfeitamente às massas e agora tal não acontece. Porquê? Isso abre pano para mangas e que talvez não seja o melhor dos tópicos. Não porque seja mau, mas sim porque se torna incómodo e discutível em meios menos esclarecidos. No fundo, digamos que o público se desleixou ou se acomodou a um certo facilitismo institucionalizado. Enfim.
Mas o jazz é uma forma de encarar o mundo, escrever e pintar com sons.



- “Porque achas então tem o jazz tem mais magia que o rock? o metal? a dance music? o pop? E por aí…”



Talvez porque o faça de uma forma que nos conecta com o universo e com as raízes, porque existe uma espécie de energia cósmica num solo improvisado, no clímax de uma performance. Há algo de transcendente e ao mesmo tempo completamente terreno e humano. É verdade que falamos de som, organizado de forma a seguir uma determinada estratégia estilística e uma manifestação própria, mas som! Com toda a grandeza ou pequenez que se lhe queira atribuir. Aliás, para quem possa não saber (espero que todos saibam!), som é vibração. Essa vibração gera ondas que se convertem em impulsos interpretados pelo nosso ouvido e analisados pelo nosso cérebro como manifestações sonoras. O interessante é que tudo na natureza está em constante vibração/movimento. Até uma rocha! Aqui entra a dimensão atómica. Os átomos também se encontram em permanente movimento, o que prova que, de facto, tudo é som.



- “O que faz pois haver quem goste de um estilo e não do outro?”



Vários factores: a educação (na minha opinião o predominante); o preconceito; o nível social (curiosamente este só se manifesta nos nossos dias, já que o jazz nasceu no seio dos emigrantes negros americanos, envolvidos na pobreza de quem pelos EUA se refugiou à espera de melhores oportunidades ou, mais cruelmente, como escravos); a falta de personalidade (demasiadas pessoas tendem a assumir comportamentos de massa dentro da unidade grupal em que se encontram); o medo da diferença (semelhante ao preconceito); a pura e simples ignorância; a própria estrutura orgânica do nosso ouvido e das conexões cerebrais; etc…



Antes que me crucifiquem, posso-vos assegurar que a resposta à questão acima apenas com um: “porque eu gosto e pronto” não é de facto resposta. Os nossos gostos são baseados nas experiências de vida, numa relação de feedback positivo ou negativo, associado ou não a outras circunstâncias marcantes, dessas mesmas experiências. Quero com isto dizer que, aquilo que alguém toma como bom hoje, teve um impacto positivo numa qualquer situação semelhante no passado. Não precisa de ser necessariamente igual, mas semelhante. Somos frutos das nossas construções pessoais e nelas baseamos aquilo que é o nosso gosto. Prova disto são os estudos, cada vez em maior número sobre o efeito da música nos bebés e recém-nascidos, cujo efeito da personalidade ainda não é absolutamente manifestado.

Voltando ao tema, o jazz e os blues são os pais de praticamente tudo o que se faz actualmente na música num contexto ocidental. O jazz faz 90 anos mais ou menos. Continua a reinventar-se diariamente, muito mais que rock. Nos dias que correm, devido ao seu espírito de profunda base musical funde-se com o pop, rock, funk, blues, música latina, flamenco, bossa-nova, música celta, sonoridades asiáticas, com a dance music, world music, fado, etc… Trata-se pois de uma manifestação profundamente actual, nascida muito à frente do seu tempo e talvez incompreendida por isso. Os ouvintes e músicos de jazz não são uma “elite” ou “intelectuais”, como muitos lhes teimam em chamar. São, infelizmente por cá, uma minoria.
Se por acaso algum ouvinte de jazz me estiver a ler, certamente, compreenderá tudo aquilo que até ao momento escrevi.

A Improvisação


Finalmente, importa dizer que o jazz introduz algo na música que até então apenas Johann Sebastian Bach (Eisenach, 21 de Março de 1685 — Leipzig, 28 de Julho de 1750), tentou fazer de forma dissimulada. A IMPROVISAÇÃO, essa forma de arte maior que foi “inventada” pelo jazz e pelo génio dos seus “criadores”. A capacidade de se reinventar uma música a cada vez que se toca é algo que só pode atrair. O rock, metal, pop, etc… tentam introduzir alguma dessa linguagem hoje em dia, mas o que é facto é que a mestria continua e sempre continuará a vir do legado dos grandes mestres. Esses homens primeiros que organizaram e compilaram aquilo que, tomamos hoje por adquirido, em termos de teoria e prática musicais. A música clássica sempre viveu á parte do jazz. Sempre olhou para este com respeito, mas, ainda assim, em parte desvalorizando-o como “música não erudita”. O conhecimento técnico dos instrumentos numa fusão próxima com o conhecimento teórico, faz com que aprender a improvisar seja uma aprendizagem a longo prazo, nunca completa na vida de um músico e que, se vai recriando e interagindo com o meio musical envolvente.

Quem nunca ouviu, que se deixe contagiar 10 minutos por dia com a magia do jazz. Ele pode mudar a tua vida!
Deixo-vos uma pequena síntese informativa dos principais nomes e correntes (imensamente mais havia para acrescentar), em ordem pela qual, o jazz, se foi desenvolvendo.


* Ragtime - 1880/1990 (Scott Joplin)


* Blues - 1900/1920 (Ma Rainey, Bessie Smith, W.C. Handy)


* Dixieland - 1917/1920 (Louis Armstrong, Jelly Roll Norton, King Oliver)


* Big Band (Swing):


- Inícios - 1920 (Flectcher Henderson, Paul Whiteman)


- "Boom" - 1930/1940 (Woody Herman, Count Basie, Duke Ellington)


- Pós-Gerra até ao Presente - 1940 (Stan Keaton, Buddy Rich, Maynard Ferguson)


* Latin Jazz - 1930 (Dizzy Gillespie, Stan Keaton, Airto Moreira)


* Bepbop - 1940/1950 (Dizzy Gillespie, Charlie Parker)


* Cool Jazz - 1940/1950 (Miles Davis, Bil Evans, Wes Montgomery)


* Hard bop - 1950 (Art Blakey, Miles Davis, Horace Silver)


* Post bop - 1950/1960 (Miles Davis, Julian "Cannonball" Adderly, John Coltrane)


* Free Jazz/Avant Garde - 1950/1960 - (Ornette Coleman, Cecil Taylor)


* Fusion - 1970 (Chick Corea, Pat Metheny, Weather Report)


* Post Modern Jazz - 1970/1980 (Charlie Haden, Muhal Richard Abrams, Keith Jarrett)


Beijinhos e abraços para todos


João

4 comentários:

' Claudjinha disse...

grande post ;) eu sinceramente, gosto do jazz ritmado (acho que são os 'blues'). gosto de jazz que tenha uma 'melodia' completa, sim, é lindíssimo. não gosto é do improvisado. não faz sentido para mim, não tem pés nem cabeça, não tem princípio nem fim, é confuso, e a música deve transmitir harmonia. mas é só uma opinião :P

' Claudjinha disse...

Obrigada pelas palavras :)

magnuspetrus disse...

Nem mais...
Tens mais que razão

blue disse...

"Os nossos gostos são baseados nas experiências de vida".

Sempre fui de gostos muito variados no que respeita à música - mas o que nunca compreendi, foi de onde poderá ter surgido a inclinação pelo jazz (e pelo gospel, e já agora, pela música country)- visto nunca ter tido essas influências enquanto crescia.

De onde veio esse gosto? Porque se gosta, e sabe-se que se gosta, mesmo.Sente-se. Diz-nos algo - bem cá dentro. Toca-nos.