02 julho 2009

Apenas um dia - Conto/Romance Parte 3

Caros amigos após a ausência de computador, cá está, finalmente, a 3ª parte do romance!
Nada podíamos fazer. Digo “podíamos” já que também eu fazia parte de toda a história.
Era necessário procurar o responsável pela barbárie.
Dirigi-me à sala, peguei no telefone e contactei o 118. Minutos depois uma ambulância e um carro da polícia encarregavam-se de despertar toda a vizinhança, que depressa acorreu numa incursão de pijama e trajes menores, invadindo o jardim. Irritado com a falta de descrição, que a situação impunha, procurei, educadamente, afasta-los. De nada serviu. Pareciam ter tendência à morbidez.
A polícia judiciária acabaria por chegar, selar o local e afastar-nos do interior da casa.
Fomos conduzidos para prestar declarações. O ambiente no ar era tenso. Sofia de olhar vazio e sem vida observava a rua pelo vidro do carro. Sem saber o que fazer, ao certo, apertei-lhe a mão com força e disse-lhe:
-Estou aqui!
Tentou esboçar um sorriso, mas saiu frágil.
Chegámos à sede da PJ e iniciou-se a tortura com horas seguidas de extenuantes interrogatórios. Sempre em busca da falha e da incongruência íamos sendo bombardeados com questões atrás de questões. O cansaço invadia o corpo e depressa chegou a manhã.
Sem dormir e com alguma fome deixaram-me sair. Sofia ficou. Apanhei um táxi e chegado a casa tomei um banho, ataquei o frigorífico e voltei a chamar um novo táxi para me levar até casa da mãe de Sofia, já que, o meu carro havia ficado lá, na noite anterior.
Ainda me encontrava tão atordoado com toda aquela história, não percebia porque não a deixaram vir também. Nada daquilo fazia sentido. Não havia sido ela, tinha certeza disso, pensei.
Estacionei no parque ao lado do edifício da PJ. Estava um dia solarengo e havia gente pelas ruas, na agitação típica de uma metrópole. Entrei. Sofia estava finalmente fora do gabinete de interrogatório. Vi-a ao fundo do corredor, corri até ela, abracei-a e disse:
- Vamos embora daqui, precisamos de apanhar um pouco de ar.
- Não posso, não posso sair para longe, disse-me a chorar.
- Porque? Perguntei.
- Fui constituída arguida! Eles pensam que matei a minha mãe João! Disse-me desmontando-se nos meus braços.
Um impulso gelado correu-me pela coluna, ainda assim, enchi-me de força, contornei os seus ombros com o braço e disse-lhe que tudo iria correr bem. Pelo menos, assim o esperava.
Saímos. Entrámos no carro e não houve uma palavra durante penosos minutos. Não sabia para onde ir, não sabia que fazer. Tentar animar? Temia que tal não fosse acontecer. Parei na praia, não me parecia o melhor dos sítios neste momento, mas tentei. Tudo parecia ignorar o que se passava connosco. O dia brilhante e convidativo, as crianças aos pulos na areia, já cheirava a Verão e nós apedrejados pela mão negra do destino, ou de outra coisa qualquer. Sofia continuava em voto de silêncio. Compreendia-o.
Sentámo-nos num rochedo junto à água. Dei-lhe a mão.
-Tu não está sozinha nisto, não sei se isso vale de algo, mas… Não estás só!, disse-lhe apertando a mão e procurando os seus olhos escondidos.
- Obrigado! Olhou e beijou-me.
Não sabia ao certo como lidar com a dualidade da situação, dei-lhe um sorriso e disse-lhe tentando cair em graça:
- Estava difícil sair um beijo teu, estava!
Devolveu-me um sorriso e encostou a cabeça no meu ombro.
Deixámo-nos ficar por uns minutos assim, olhando o mar, calados.
- Que vou eu fazer agora? Tenho a minha vida destruída! Acusaram-me de ter morto a minha mãe.
- Calma! Eles não te acusaram de nada! Constituíram-te arguida por teres sido a primeira a chegar ao local e enfim, por todo o cenário. Nada mais que isso! Provar-se-á que não foste tu. Tenho certeza disso. Resta-nos arranjar um advogado, coisa que já devíamos ter feito, ainda antes dos interrogatórios e deixar que as investigações comprovem que estás inocente.
Seríamos chamados para depor novamente nessa tarde.
Segundo o inspector eu fora ilibado já que à hora do crime estava no bar e havia passado o dia no trabalho, coisa que fora comprovada pelos testemunhos da Margarida, do Pedro e dos restantes amigos do bar, que concordaram prestar declarações.
Já Sofia corria mais riscos, não tinha álibi.
Depois do jantar passámos pela casa de Sofia para trazer alguma roupa e artigos de higiene pessoal, já que, havíamos combinado que ela ficaria na minha casa, pelo menos, por uns dias.
Sofia entrou no edifício e eu fiquei para trás, detido pelo aparecimento da D. Ermelinda, que num ápice, me lançou um completo interrogatório sobre tudo o que se estava a passar, pois a notícia não demorara a chegar. Tentei abreviar o assunto. Por fim subi. Ao entrar, dou com Sofia estática à entrada da sala, apoiada na parte lateral da porta. Boquiaberto, vejo inscrito na parede, a pinceladas irregulares de tinta vermelha meio escorrida:
- Agora só faltas tu!
Apressados, arrumámos os haveres dela e saímos directos para a polícia relatar o que vimos.
Continua brevemente...
Beijinhos e abraços para todos
João

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